quarta-feira, 5 de maio de 2010

Uma experiência de amor com o Pai

Venho de uma família simples e tradicionalmente católica. Meus familiares sempre foram ativos nas pastorais. Meu pai era catequista e coordenador da comunidade. Ensinaram-me os princípios e valores que foram fundamentais na formação do meu caráter e de minha identidade. Rezávamos o terço em família. Sempre tínhamos conselhos de que era necessário ter tempo para Deus, “pois, a Deus pertence o tempo, a vida”. Isso me ajudou a criar uma intimidade com o Senhor e a ter gosto para rezar.

O gesto de pedir benção era sagrado, ao acordar, dormir, sair e chegar, com pessoas idosas e visitantes. Hoje valorizo como foi bom aprender acolher as pessoas, pois, meus pais sempre prezavam a acolhida. Tinham um sorriso bonito sempre quando chegava alguém. Atenção e carinho manifestavam a todos. Serenidade e simplicidade no olhar, no falar, de estar com as pessoas.

Uma frase bonita que sempre expressava era “Deus quer o nosso bem!”. O homem procura o mal. Deus não pensa maldade para o ser humano. Nós precisamos também de não desejar maldade para o próximo, uma vez que somos chamados filhos de Deus. Por isso, não gostavam que eu e meus irmãos falássemos mal ou guardássemos raiva dos outros, e os xingamentos. Meus pais não gostavam falar de inferno, de castigos divinos, de falar mal dos outros, pois segundo eles o amor de Deus é infinito. Sempre tinham uma palavra de misericórdia. “O perdão é a atitude de Deus, pois, nos perdoa sem limites, Deus não olha o tamanho e a quantidade de nossos pecados, porém, a nossa humildade diante Dele”. Minha avó dizia que tudo que fizermos seja para o amor de Deus, nunca para a desgraça.

Quando íamos para a escola, levávamos alguma merenda, e sempre nos recomendava para compartilhar e partilhar o que tínhamos com os outros, de oferecer ajuda a alguém que necessitava. Meus pais aconselhavam sobre aquilo que era certo de se fazer, tendo um bom comportamento.

Desde criança gostava muito de participar dos encontros de grupos de reflexão de minha comunidade. Isto fez crescer em mim a vontade de conhecer a bíblia, a ter gosto de leitura pela Sagrada Escritura.

Fui coroinha durante cinco anos na matriz da paróquia de Entre Folhas. Foi nessa ocasião em 1996, que manifestei ao padre Paulo Mendes Peixoto, o meu desejo de ser padre. Era bonito ouvir suas palavras fraternas, ele tinha um jeito sereno de comunicar e celebrar.

Vou descrever um fato que me fez compreender o amor e a misericórdia do Pai na mais profunda angústia do ser humano: a morte. Quando não compreendemos a morte e principalmente a ressurreição, a nossa vida perde o sentido. O desejo do ser humano é viver para sempre, dessa forma, a morte torna-se um obstáculo.

Em 1992 meu pai, faleceu vítima de câncer intestinal. Diante da morte sentia um vazio existencial e um sentimento de perda. A idéia da ressurreição não estava bem estruturada interiormente. Nem meus familiares e catequistas sabiam falar bem de ressurreição. Estava com sete anos, meu irmão caçula estava com três meses de vida. Por um longo tempo perguntei onde Deus estava naquele momento.

Hoje compreendo a bela canção que meu pai morreu cantando “segura na mão de Deus e vai”... Um sorriso bonito e uma serenidade facial manifestava a presença de Deus. Deus estava presente, foi por isto, que meu pai cantou em louvor e agradecimento e de entrega ao Pai Criador e misericordioso.

Humanamente falando é difícil compreender o mistério da morte. Do mesmo modo, humanamente falando é uma ALEGRIA compreender o mistério da RESSURREIÇÃO.

Acredito que nós cristãos precisamos ter uma idéia clara da ressurreição. A imagem do Cristo sofredor está enraizada na mente de muitas pessoas. Isto justifica a presença do povo durante a quaresma. Penso que, toda a caminhada quaresmal deve voltar-se, dirigir-se a Ressurreição, ao Tempo Pascal. Os apóstolos tinham ficado tristes e desanimados com a morte de Cristo na cruz. Mas se fortaleceram se animaram e alegraram a partir de quando viram, contemplaram a glória de Jesus Ressuscitado.

O amor, a alegria, é a ressonância da ressurreição em nós. Somos um ser não para a morte, mas para a Ressurreição. Acredito que, o cristão, sendo seguidor fiel, um discípulo-missionário apaixonado, é um ser para a eternidade, e essa eternidade com Deus, em Deus. E essa foi a experiência de encontro com Deus a partir da morte de meu pai, em que por algum tempo não consegui compreender.

A nossa vida deve ser inteiramente dedicada ao Senhor. É viver em Deus, com Deus e para Deus. Esse é o chamado do Pai a vida. De estar em comunhão, intimidade, sempre com Ele, assim como Jesus, “Eu e o Pai somos um”. Essa frase expressa uma profunda comunhão entre o Pai e o Filho, que nós cristãos somos chamados a também viver em comunhão com Deus. O Pai caminha conosco, participando da nossa história.

Uma das coisas mais bonitas que eu sinto de nosso Pai, é que não interfere em nossas escolhas. O Pai nos dá a plena liberdade para escolher segui-lo. Não nos obriga a cumprir sua vontade. Muitas pessoas têm uma imagem falsa de Deus, justamente por que não fez a experiência do amor de Deus. A liberdade humana não limita o poder de Deus. O Pai nos ama sem limites e oferece-nos como presente a vida. A liberdade é fruto de seu amor por nós, pela humanidade.

Essa é a minha experiência de amor com o Pai. Um relacionamento que ao longo do tempo cresceu em intimidade, confiança, fé, amor e compromisso. Valorizo muito a experiência de meus pais, pois mesmo sem ter conhecimentos teológicos, tem uma vivencia de amor e fé, que revela a presença de Deus em nosso lar e em seus corações. Se não fosse o testemunho de fé cristã deles, talvez eu também não tivesse a oportunidade de experimentar o amor de Deus. Meus pais ensinaram-me amar, amando com testemunho de fé. Um amor de gesto concreto de caridade cristã, de comunhão com Deus e com os irmãos.

A cada dia faço essa experiência do amor de Deus no meio de nós, buscando viver em comunhão com Ele, seja na oração, na Eucaristia, na leitura orante da Palavra, e na partilha de vida com os irmãos.

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