quarta-feira, 5 de maio de 2010

O papel das instituições na formação humana

Kant, analisando a problemática da educação, estabelece a tarefa da família, escola, Estado e religião na formação humana.

Uma geração pode destruir tudo o que outra teria construído (Kant, 2006, p. 12). Dessa forma a família cumpre um papel importante. Os pais são exemplos pelos quais os filhos se regulam. Uma boa educação é justamente a fonte de todo bem neste mundo. Tudo depende da educação. O ideal de educação a ser realizado, depende de um planejamento, preparação e uma boa formação. A família auxilia na formação do caráter e da personalidade.

Muitos pais educam seus filhos somente para o mundo presente. É fundamental que a humanidade caminhe para o aperfeiçoamento (bem supremo). Por isso, é interessante que os pais se preocupem que os filhos sejam pessoas boas no mundo. Neste sentido a educação deve durar até o momento em que à natureza própria do indivíduo determinar que ele governe a si mesmo. Para se tornar independente, o indivíduo deve determinar-se a si mesmo. Sapere aude.

Os pais devem oferecer liberdade aos seus filhos desde crianças e ensinar-lhes a fazer bom uso dela. As educam para que sejam livres, dispensando os cuidados de outrem. Sendo assim, nunca serão alienados, influenciados por outros.

Em Sobre a Pedagogia, Kant faz uma advertência para que a criança cresça respeitando a lei do outro, reconhecendo seus limites, seu espaço e suas responsabilidades como cidadão do mundo. Não devem acostumar os bebês a ter seus caprichos satisfeitos, pois, mais tarde é difícil dobrá-los, ou seja, educá-los, pois não conhecem a ideia de costumes e deveres. A disciplina não trate as crianças como escravas, faça sempre que sintam sua liberdade, de modo que não ofendam a dos demais. Outro ponto a ressaltar na vida da criança é o lúdico. É bom que o homem exercite suas habilidades, seus dons, seus talentos, sua motivação, seu desejo, por meio da diversão. O trabalho tem uma finalidade, no divertimento não há finalidade, serve para cultivar o espírito, o bom humor e a alegria de viver. Os pais não devem dobrar-se à vontade das crianças, mas dirigi-las. Orientá-las para que se formem a si próprias, elaborando seus próprios conceitos, examinando sua conduta. Prejudica o crescimento moral quando se pretende que as crianças façam sempre a vontade de outrem.

Kant fala claramente sobre o papel do Estado na sociedade, na história e na vida pessoal dos cidadãos. Em Sobre a Pedagogia, faz apenas uma síntese da tarefa do Estado na formação humana. O ideal de política é aquele em que todo o cidadão exerce plenamente a sua liberdade, a verdadeira democracia. Uma república perfeita, governada conforme leis de justiça.

O projeto educativo deve servir de modo cosmopolita, para todos os cidadãos. Uma lei deve servir para todos. Eis o fundamento do imperativo categórico. Muitos governantes consideram seu povo como reinos animais, usam os súditos como instrumento de dominação. A arte de governar para todos exige que a política esteja ligada à ética e a moral. O direito do homem deve ser considerado como sagrado, por maiores que sejam os sacrifícios que custem ao poder dominante (Kant, 2008, p, 91).

Kant, em Sobre a Pedagogia, estabelece uma proposta de educação intelectual (cultura da alma), baseado na autonomia, no uso da razão. A educação intelectual conforme encontramos não é apenas uma acumulação de conhecimentos, mas uma formação que leva o homem a progredir em direção ao desenvolvimento de sua capacidade de pensar autonomamente.

Analisando o sistema da educação, ela deverá ter um ideal norteador cuja ação se exercerá em prol da realização desse ideal. A direção das escolas precisa de pessoas competentes e ilustradas que se interessem e se preocupem com o bem da sociedade. Cabe a eles, nesse caso de projetar um futuro melhor, conceber um estado melhor, uma nação onde reine a paz perpétua.

A partir de então, a tarefa da educação intelectual caberá, portanto, a instrução do indivíduo a ser disciplinado, de sempre impedir que a animalidade prejudique o caráter humano, tanto no indivíduo como na a sociedade. O segundo passo é ser culto. Educar para aprender a ler (muitos leem, mas não entendem, porque não refletem). O terceiro passo é a instrução da prudência, formar pessoas para ter sua posição, opinião própria. O quarto passo é a instrução para a moral, para escolher os bons caminhos, enfim a liberdade.

A razão faz conhecer os próprios princípios, refletir sobre as causas, defeitos e consequências. Deve-se por em prática a regra que se aprendeu. O melhor modo de compreender e entender é fazer. Disso resulta na união entre reflexão e prática (razão e experiência) para obter o conhecimento.

Kant afirma que é fundamental cultivar a razão, fazer conhecer seus princípios e valores. Dessa forma, buscar por si mesmo os conhecimentos. Os mestres na escola, não devem ter preferência a um aluno em relação a outros. Devem tratá-los com igualdade, uma lei geral válida para todos. Quando uma criança observa que os outros não estão submetidos à mesma lei, torna-se rebelde. Neste sentido, professor e aluno somarão experiências. A criança deve estimar-se pelos conceitos da própria razão, formando conceitos em si mesmo, julgando por si mesmo.

A formação religiosa também deve garantir a liberdade pessoal. “Deus quer que pratiquemos aquilo que é bom”.A partir dessa declaração kantiana compreende-se que a educação religiosa deve proporcionar ao homem, o caminho do amor, justiça.

Os conceitos religiosos devem ser ensinados à criança, entretanto, sem se recorrer ao ensino da teologia. O homem deve servir a Deus por prazer, não por obrigação. Neste sentido, nota-se o exercício da liberdade frente à religião. Kant analisa as questões religiosas em Religião nos Limites da Simples Razão. Ele converte a igreja em estado ético. A religião é puramente ligada à moral. Deus está na esfera da razão prática. Em todas as religiões há o princípio do bem e do mal, sendo este um ato livre e responsável do homem a partir de sua escolha. Deus não interfere na escolha e na vida humana. Cristo, o mestre do amor, preocupou-se com a esfera da ética, da praticidade da vida, da conduta humana, seus ensinamentos estão presentes no Santo Evangelho. Cristo cumpriu a perfeição moral, a qual todos os humanos estão destinados.

A única e verdadeira religião é a moral. Seu culto é cumprir o dever moral como mandamento de Deus. É falso culto, tudo o que os homens fazem para agradar a Deus (novenas, peregrinações etc.). Toda educação religiosa deve tomar cuidados para não transformar as crianças em homens preconceituosos.

O homem é sempre responsável pela sua escolha, portanto não existe nele a natureza do bem e do mal. Há no homem uma tendência, disposição tanto para o bem como para o mal. A religião é uma moral aplicada ao conhecimento de Deus. Cânticos, preces, promessas, jejuns, romarias e até mesmo frequentar igrejas, devem servir para o indivíduo como um caminho para o bem, o amor. A lei considerada nos homens chama-se consciência. A consciência é, de fato, o julgamento das nossas ações. A religião quando não for acompanhada da consciência moral é falso culto. O verdadeiro modo de louvar a Deus consiste no agir moralmente.

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